quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Filosofia da arte





"A expressão mais vigorosa da arte é considerada aquela que proporciona ao sujeito humano um conhecimento especial de si mesmo. Ele aproveita a percepção sensível e mobiliza todos os seus recursos, reflexivos ou não, para se servir de todos os meios potencialmente úteis para o entendimento da realidade".



Por Leandro Konder


Defrontamo-nos hoje com uma incrível diversidade que se manifesta nas funções e nos meios das artes. As palavras, os sons, as imagens, a ficção literária, as comédias, os dramas, os poemas líricos e os filmes de cinema nos interpelam, nos convocam para múltiplos encontros.

Percebemos a variedades de linguagens que se expressam desde artigos de jornais e ensaios até o vastíssimo continente da música. Acrescente-se a esta lista interminável o texto das obras teatrais, das reportagens e das crônicas, sem a menor pretensão de esgotar o tema.

Todas estas atividades podem ser homenageadas com a designação de “artes”. No plano da vida cotidiana a arte é tudo o que é feito com esmero e chega a ser considerado “bem feito”. No entanto, são óbvias as diferenças existentes entre o caráter dessas produções da mão e do espírito. As peças artesanais, as tragédias de Shakeaspere, os jarros de cerâmica e os desenhos a lápis ocupam espaços bastante diversos na classificação de seus poderes “artísticos”. Um filme de Eisenstein, um romance de Balzac, uma moqueca de camarão pertencem a um todo que os torna parentes no espaço da expressão espiritual do ser humano. E isso independentemente das notórias diferenças que existem entre as obras de arte.

O leitor hesita, teme que o reconhecimento dessa diferença interna engendre desigualdades e fortaleça preconceitos. Mas não podemos deixar de indagar:

Mestre Vitalino, com suas figurinhas de barro, é um escultor tal qual Michelangelo?

A expressão mais vigorosa da arte é considerada aquela que proporciona ao sujeito humano um conhecimento especial de si mesmo. Ele aproveita a percepção sensível e mobiliza todos os seus recursos, reflexivos ou não, para se servir de todos os meios potencialmente úteis para o entendimento da realidade.

O sujeito na arte – digamos, na grande arte, para evitar dúvidas – só se interessa profundamente pela sua realidade específica. E como essa realidade é inesgotável, ele não pode desperdiçar a dimensão de descoberta, nem a dimensão de invenção. O que ele cria é algo que não existia antes. Mas não há dúvida de que passou a existir.

A complexidade do conhecimento, que abrange a integração constituída pela apreensão da realidade infinita, nos adverte contra os avanços exageradamente comemorados quando se festeja a aplicação da capacidade humana de conhecer simultaneamente a parte e o todo. O conhecimento avança se movendo em todas as trilhas que ele encontra ou inventa. A arte não se deixa reduzir à dimensão da sua pertinência no recurso à coleta de informações, por preciosas que sejam essas informações.

A arte, então, é ela própria uma fonte inesgotável de conhecimentos. Por isso, mesmo quando não estão travando lutas políticas, os artistas tendem a preocupar os donos do poder e são vistos com ameaças à ordem vigente.

FIM

Extraído do site Brasil de Fato
http://www.brasildefato.com.br/node/5385

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