quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Devemos criar uma democracia global, afirma o filósofo Edgar Morín


"Se as soluções não estão visíveis, isso não quer dizer que elas não existam", diz Edgar Morín

do OperaMundi


"É preciso acreditar no improvável. Apostei minha vida inteira nesse caminho". É desta forma, até otimista, que o filósofo e sociólogo francês Edgar Morín justifica a sua esperança de que ainda é possível construir um mundo mais solidário e harmônico.

Ele esteve na terça-feira (09/08) na Sala São Paulo, região central da capital paulista, para participar de uma palestra organizada pelo Fronteiras do Pensamento, evento promovido pela Braskem e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Morín trouxe uma ampla análise a respeito da crise econômica, da globalização e apontou a construção de uma democracia global como saída para os atuais conflitos entre as nações.

O filósofo criticou as ciências econômicas que, apesar de terem evoluído, se revelaram incompetentes para evitar crises, além de quererem quantificar "tudo o que há na sociedade". "Os cientistas econômicos são precisos quanto aos números e as grandezas matemáticas. Mas a economia não leva em conta o que há de mais importante: os sentimentos das pessoas, o medo e a insegurança que as crises geram nas famílias".

A separação dos conhecimentos tem levado a sociedade e os governos a não enxergarem os problemas como um todo. A realidade não acontece de forma fragmentada, mas insistimos em tentar entendê-la dessa forma, como se um problema fosse só de ordem econômica ou política. "Estamos cegos", alerta Morín.

Pátria global

"É graças à globalização que as pessoas passaram a ter a sensação de comunidade, de pertencerem ao mesmo grupo. Neste sentido, a globalização é o melhor dos mundos!", avalia o professor. O aumento e a intensificação da relação entre as diferentes sociedades é apontada como o embrião de uma pátria, de uma democracia global.

"Pátria global" é o termo que Morín usa para definir o que seria a formação de uma sociedade global, a qual possibilite a existência de uma unidade entre os povos, mas que respeite as diferenças e particularidades de cada cultura.

Na visão do sociólogo, o crescimento da globalização é essencial para a construção de uma nova sociedade. "Os fenômenos globalizantes são importantes porque levam, por exemplo, conceitos de liberdade e de direitos humanos para sociedades mais tradicionais e fechadas".

Por outro lado, ele expõe que a globalização também permite a proliferação das armas de destruição em massa, o aumento da degradação da biosfera e a falta e regulamentação financeira dos mercados. "Os fenômenos globais tem levado à proliferação e a intensificação da miséria, da exploração e degradação do homem e da natureza. Neste sentido, a humanidade tem caminhado em direção ao abismo", diz.

De acordo com o professor, na medida em que aumenta a unificação entre os países, a cultura de cada um deles é transformada. Assim, ao sentirem ameaçadas culturalmente, as sociedades se fecham para tudo o que vier de fora. "Esse ideal de preservação cultural é o que leva ao retorno das raízes primitivas destes povos e, em alguns casos, isso dá espaço para que ressurjam sentimentos como o preconceito ou o racismo", explica o filósofo.

O humanismo latino

Morín lamenta que a Europa não tem conseguido mais oferecer respostas para os problemas mundiais, mas avalia que o pensamento na América Latina tem apresentado novas alternativas. "É triste ver que o presidente do meu país (Nicolas Sarkozy) colocou a culpa dos problemas da França nos ciganos, um povo historicamente perseguido. Na Inglaterra, a recente onda de violência é uma resposta dos imigrantes ao comportamento truculento da polícia", analisa.

Entre os exemplos positivos na América do Sul, ele cita o conceito do "bem viver", no qual a diferença para a ideia do "bem estar social" é considerar a qualidade de vida e não o conforto como prioridade dentro das sociedades.

O paradoxo da liberdade

Para Morín, é necessária a construção de um pensamento complexo que consiga entender a ambivalência da humanidade. Esta complexidade seria a percepção de que um ideal como a liberdade pode tanto ter implicações positivas como negativas. "Ao mesmo tempo em que hoje as pessoas podem ser mais livres como indivíduos, este individualismo tem criado uma sociedade cada vez mais egocêntrica", avalia o pensador. Precisamos encontrar maneiras de responder a isto.

Na concepção de Morín, as escolas devem ensinar as pessoas a pensarem a sociedade de forma complexa. "Temos aprendido que os fenômenos sociais acontecem de maneira isolada, que um problema econômico tem raízes na economia e os seus danos serão sentidos só nesse âmbito. Quando, na verdade, problemas dessa ordem são sentidos em todos os setores da sociedade. Precisamos mudar o rumo".

Morín afirma que a crise atual nos oferece duas alternativas: ou apresentamos novas soluções ou o sistema vai regredir e se tornar ainda mais bárbaro. "Eu confio na criatividade da humanidade. O tempo tem comprovado que o ser humano é muito criativo. Nossas criações artísticas e culturais e a construção das sociedades comprovam isso. Não sei como será a pátria global, mas vocês vão saber criá-las", analisa o filósofo.

"Se as soluções não estão visíveis, isso não quer dizer que elas não existam", explica. Segundo ele, o cristianismo estava a milhares de quilômetros do centro do Império Romano e acabou se tornando a maior religião ocidental. O capitalismo, lembra ele, era em seu início, era um 'parasita do feudalismo' com as pequenas vendas de tecidos, perfumes e tempero, posteriormente, desencadeou o fim deste sistema.

"O cristianismo e o capitalismo são exemplos que a humanidade consegue mudar de rumo a partir de coisas pequenas. Precisamos dar início a um processo de metamorfose da humanidade mesmo que não saibamos qual será o resultado", afirma Morín.

FIM


Crédito da foto: Greg Salibian


Extraído do Blog Ronaldo - Livreiro

http://ronaldolivreiro.blogspot.com/2011/08/devemos-criar-uma-democracia-global.html

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Dilma e o presente – Entrevista à revista Carta Capital




Por Luiz Gonzaga Belluzzo, Mino Carta e Sergio Lirio (10/08/11)

Os gravadores ainda estavam desligados, a conversa versava sobre artes plásticas, quando Dilma Rousseff, por um instante, pensou em outra vida: “Vocês sabem que eu gostaria de ter sido pintora, não?” Quase no fim da entrevista, ela voltaria ao tema, um de seus preferidos, ao mostrar um livro sobre um grupo de sete pintores canadenses do começo do século passado, sua distração do momento.

No mais, a presidenta aparentava bom humor. E não havia um motivo específico para tanto. Ao contrário. A terça-feira 9 seria mais um daqueles dias em que o Palácio do Planalto se veria obrigado a reagir à contingência. Logo no raiar do dia, a Polícia Federal havia prendido 36 suspeitos de participar de um esquema de corrupção no Ministério do Turismo, entre eles o secretário-executivo da pasta. A operação soma-se a uma profusão de denúncias que culminaram na queda de Antonio Palocci, na faxina nos Transportes e nas demissões na Agricultura. Com resultados agora medidos sobre a aprovação da presidenta e de seu governo. Segundo pesquisa Ibope divulgada no dia seguinte, a popularidade de Dilma recuou 6 pontos porcentuais em relação à última medição. O mesmo se deu com o apoio à administração.

No flanco econômico, as bolsas de valores davam uma pequena trégua, mas prenunciavam os próximos dias de terror com o aprofundamento da crise econômica na Europa e o rebaixamento dos títulos da dívida dos Estados Unidos. “A situação mudou e o Brasil será obrigado a reagir de forma diferente à nova realidade”, afirmou Dilma, sem informar se a mudança em curso significa interromper a alta dos juros para conter uma inflação que já não mostra mais o ímpeto do primeiro semestre. “Pode ser exigido de nós um grande esforço.”

A entrevista, em uma antessala do gabinete presidencial, precedeu uma reunião sobre o modelo de concessão de aeroportos a ser adotado pelo governo. Durante a conversa, que durou um pouco mais de uma hora, a presidenta negou que a nomea-ção de Celso Amorim para a Defesa tenha causado desconforto nas casernas (“Não estamos mais na época das vivandeiras”), afirmou que estádios e aeroportos estarão prontos a tempo para a Copa 2014, -expressou-se de forma distante sobre Ricardo Teixeira e garantiu que a Comissão da Verdade será instalada. E revelou seu novo projeto na área de saúde, definido por ela como sua mais nova “obsessão”: a adoção do home care, atendimento de saúde em casa nos moldes existentes no Reino Unido e nos EUA. “É mais barato, é melhor para as pessoas e pode ser feito em escala maior com um custo fixo muito pequeno e com um custo variável interessante.”


CartaCapital: Aquela simpatia inicial da mídia em relação à senhora parece ter passado. Há as denúncias de corrupção, que precisam ser investigadas, mas há também essa tentativa de criar uma tensão do nada, como no caso da nomeação de Celso Amorim para a Defesa.
Dilma Rousseff: O que acho complicado no Brasil é que os problemas reais perdem espaço para os acessórios, ou para os que não são reais. Isso é muito ruim, porque há uma tendência de as pessoas se importarem mais com o espetáculo do que com a realidade cotidiana das coisas. E normal, talvez por isso, inclusive, que todos gostemos de folhetins. Não posso ficar reclamando. Agora, essa relação com a mídia, não sei se ela não é assim em todos os governos, desconfio que…

CartaCapital: Em todos os governos do Brasil ou do mundo?
DR: Do mundo. Você tem uma relação contraditória com a mídia. Veja o que ocorre, por exemplo, nos Estados Unidos, entre a Fox e o Obama. E há essa coisa horrorosa que é o News ofthe World na Inglaterra. Não acho que eu seja tratada da mesma forma por todos os jornais. Têm grupos de mídia mais suscetíveis a encarar as transformações pelas quais o Brasil passa e têm outros menos suscetíveis. Não acho que o governo deva se pautar por isso, pela mídia. Isso não significa não dar importância. Dou importância e tenho obrigação de responder e levar em consideração as demandas. Agora, não vou gastar nisso todo o meu tempo, que é político. Tenho de gastar meu tempo tratando dos assuntos que resolvem problemas do País.

CartaCapital: Mas nas últimas semanas, a começar pela crise nos Transportes até a mais recente, na Agricultura, o seu governo parece apenas reagir a uma série de denúncias de corrupção publicada pela mídia.
DR: Afastamos as pessoas quando achamos que o caso era grave. Não acho que somos pautados pela mídia em nenhum desses casos. Nem na história dos Transportes, nem da Agricultura ou de qualquer outro caso que por ventura ocorra, não temos o princípio de ficar julgando as pessoas, fazendo com que elas provem que não são culpadas. Somos a favor daquele princípio da Revolução Francesa, muito civilizado, que cabe a quem acusa provar a culpa de quem é acusado. Mas não acho que o governo deva abraçar processos de corrupção. Por razões éticas, mas também por conta de outro fator: um governo que se deixa capturar pela corrupção é altamente ineficiente. É inadmissível diante de tão pouco dinheiro que temos para fazer as coisas. Então, por uma questão não só ética e moral, mas de eficiência, você é obrigado a tomar providência.

CartaCapital: Falemos da nomeação de Celso Amorim. Essa história de que as casernas estão irritadas com a nomeação dele…
DR: É relevante?

CartaCapital: É relevante?
DR: Não acho. Primeiro, porque não estamos mais na época das vivandeiras. As Forças Armadas são disciplinadas, hierarquizadas e cumprem seus preceitos constitucionais. Estão subordinadas ao Poder Civil e é assim pelo fato de a sociedade brasileira ter evoluído nessa dire cão. Não é uma conquista do governo ou da mídia, é da sociedade brasileira. Agora, se há setores, absolutamente minoritários, entre os militares ou na mídia que assim pensam, é irrelevante, faz parte do passado, de uma visão atrasada da História. Outra coisa muito grave, aquém da realidade, é achar alguém insubstituível. As pessoas têm de ter a humildade de perceber que não são insubstituíveis, a gente descobre isso quando criança, principalmente se você perde algum parente importante, como o pai ou a mãe, cedo.
Além disso, nem na época da monarquia o rei era insubstituível, havia aquela história dos dois corpos do rei, o divino e o humano. O rei morreu, viva o novo rei. O tempo é o senhor desse processo e tenho certeza de que o Celso Amorim vai demonstrar uma grande capacidade de gestão, vai levar à frente a nossa Política Nacional de Defesa e vai fortalecer e modernizar as Forças Armadas. Vamos discutir daqui a um ano. Tem gente que olha para o passado. Eu olho para o futuro.

CartaCapital: A senhora já refletiu,fez alguma interpretação, sobre o comportamento do ex-ministro Nelson Jobim?
DR: Ah, não faço nenhuma interpretação. É uma página virada, não temos de ficar discutindo. Isso pode até ser interessante para a mídia, mas para o governo não é.

CartaCapital: Acompanhei as suas declarações recentes sobre a crise. A senhora disse que o Brasil está mais preparado do que em 2008. É isso?
DR: Você me ouve e eu te leio, viu Belluzzo (risos). Vivemos um momento que ninguém da nossa geração imaginou viver. Jamais pensei na minha vida que eu veria uma agência de classificação de risco rebaixar a nota dos títulos dos Estados Unidos. Fiquei perplexa. De uma certa forma, tirando um aspecto um tanto irónico da situação, não acho que essa agência (Standard à Poor’s) seja muito responsável ou tenha tomado uma decisão fundamentada. Não houve nenhuma grande alteração, a não ser política, que justificasse. De qualquer forma, isso indica muito o momento que o mundo vive, no qual há duas coisas incontestáveis.

CartaCapital: Quais?
DR: Temos uma crise profunda, que, como todos sabem, não foi produzida pelos governos. Deve-se a uma crise do mercado financeiro, da sua desregulamentação, com aquiescência, aí sim, do poder público. Ontem, por acaso, estava com dificuldade de dormir e voltei a assistir ao documentário Inside Job, um filme que todo mundo deveria assistir. É impressionante como, por meio dos depoimentos, o absoluto descontrole fica patente.
E em vez de tomarem medidas cabíveis para retomar as condições de crescimento, encheram os bancos de dinheiro outra vez, mantiveram a desregulamentação, continuaram com o processo de descontrole e agora a crise se exprime de forma muito forte na Europa. Há duas utopias apresentadas como possíveis. Há aquela americana, a solução dos republicanos, que acham ser possível sair de uma das maiores crises, gerada não pelo descontrole dos gastos públicos, diminuindo o papel do Estado. Nesse debate há a tentativa dos republicanos de reduzir a nada o Estado. Não se recupera uma economia desse jeito.

CartaCapital: E a outra?
DR: Tem uma segunda utopia vendida lá na Europa. É a seguinte: é possível a gente ter uma união monetária em que a economia central, ou as economias centrais, se beneficiam de uma única moeda, estruturam um mercado, vendem os seus produtos para esse mercado e não têm a menor responsabilidade fiscal, punindo seus integrantes quando eles entram em crise, também provocada pelo nível de empréstimo dos bancos privados. Há um sujeito oculto engraçado, um Estado supranacional com uma política fiscal comum para socorrer os integrantes e não deixar, por exemplo, que a Grécia não tenha outra saída a não ser matar seus velhi nhos, atirá-los do penhasco, que era o que acontecia antes, ou acabar em uma redução brutal dos salários e das pensões. Agora, com a Itália e a Espanha, o problema ficou mais complexo, entra em questão a União Europeia. Parece, lendo os jornais europeus, que as ofertas de socorro são poucas e chegaram tarde. São duas utopias muito graves, porque, como disse o Belluzzo, é mais do mesmo e uma tentativa de responder à crise com aquilo que a causou. Em vez de mudar o roteiro da pauta, responde-se com o que a causou. Agora, o Brasil tem de reagir a essa situação.

CartaCapital: Como?
DR: Todas as situações são inusitadas, não são aquilo que ocorreu no passado. O momento agora não é igual ao de 2008 e 2009. Temos um problema sério, porque os EUA podem ir para o quantitative easingS (emissão de dólares) e aí eles vão inundar este nosso País. Não tem para onde ir e então eles virão para os mercados existentes, ou seja, nós. Como disse a ministra da Indústria da Argentina, virão para um mercado apetecible. Somos apetecibles, acho que o espanhol tem essa capacidade sonora de às vezes mostrar quão apetecibles somos. Começamos a tentar uma política bastante clara no sentido de conter esses avanços quando o governo colocou aquela tributação sobre os derivativos, porque sabemos que o efeito disso é a entrada aqui, ela se dá por essa arbitragem dos juros.

CartaCapital: Mas o que se pode fazer? Começar a baixar os juros?
DR: Não vou te dizer qual é a nossa receita, porque, se fizer essa antecipação, cometerei um equívoco político e econômico. Vamos, o governo, olhar a partir de agora de uma forma diferente essa situação que vem pela frente, porque é algo distinto. Não estamos mais na mesma situação de antes, nem sabemos direito o que vem, mas estamos com abertura suficiente para perceber que pode ser exigido de nós um grande esforço para conter isso. De outro lado, percebemos que, além de tudo, há o fato de que a indústria manufatureira no mundo está com uma grande capacidade ociosa, procurando de forma urgente mercados, e que somos esse mercado. Não vamos deixar inundar o Brasil com produtos importados por meio de uma concorrência desleal e muitas vezes perversa. Vamos fazer uma política de conteúdo nacional com inovação, a mesma que aplicamos em relação à Petrobras e que deu origem à encomenda de estaleiros novos produzidos no País. Também vamos olhar o efeito da crise por setor, porque ele é assimétrico. Alguns são mais prejudicados que outros. Os mais afetados receberão estímulos e proteção específicos. Haverá uma política de defesa comercial, além da continuidade de nossas políticas sociais e de estímulo ao investimento e ao consumo. Hoje (terça-feira 9), por exemplo, ampliamos o Supersimples. Fizemos uma grande isenção tributária que beneficiará um universo muito grande de empresas. Teremos ainda uma política de incentivo à exportação por meio do Reintegra, uma novidade. Nunca tínhamos feito nessa escala. Sabemos que isso é só um início e estamos abertos a todas as outras hipóteses de trabalho, vamos acompanhar de forma pontual. É como se diz no futebol, marcação homem a homem. Aqui também será marcação mulher a mulher e de todos os jeitos possíveis (risos).

CartaCapital: Falemos um pouco da Copa de 2014. Por que as coisas não estão andando como deveriam?
DR: Gostaria de entender por que isso.

CartaCapital: Por que achamos isso?
DR: Baseados em quê?

CartaCapital: As obras estão lentas, outras foram paralisadas…
DR: Quais?

CartaCapital: Estádios…
DR: Vivemos em uma democracia. Temos o Judiciário, o Legislativo e o Executivo.

CartaCapital: Há outro motivo.
DR: Qual?

CartaCapital: A Fifa é uma organização mafiosa e o nosso líder futebolístico fica muito bem dentro desse panorama.
DR: Quem é o nosso chefe?

CartaCapital: O Ricardo Teixeira.
DR: Do governo ele não é.

CartaCapital: Do futebol. Há quem diga que a senhora não o recebe.
DR: Recebo sim, são relações institucionais. Mas voltemos às obras. É preciso fazer uma diferença: as obras essenciais e aquelas que serão legado. No caso dos estádios, essenciais, tomamos uma providência muito clara. Eles disseram que os estádios serão privados. Dentro dessa visão, eles não estariam na matriz de responsabilidade do governo federal. Mas a União, sabendo do seu poder de financiamento, principalmente de longo prazo, escalou o BNDES para financiar dentro dos valores definidos internacionalmente pela Fifa.
São até 400 milhões de reais. Na última avaliação, das obras de estádios em andamento, dez estavam com zero de problemas, fora as dificuldades normais inerentes a grandes projetos. Uma licença que atrasa aqui, algo que precisa arrumar ali. Dois não tinham iniciado obras ainda e eram problemáticos. Um por problema na licitação, que foi refeita. O outro, por conta de uma discussão entre o Ministério Público Federal, o TCU e a CGU. E havia o estádio em São Paulo, cuja situação é pública e notória, e por isso eu a cito aqui. Fizemos muita pressão para resolver o impasse de uma vez por todas. O governo estadual decidiu então entrar, assim como a prefeitura. Acreditamos que o estádio em São Paulo será o que vai ficar pronto mais em cima da hora, mas vai ficar pronto antes do começo da Copa. Vamos supor, porém, que haja algum que não fique pronto. Temos 12 sedes e, em qualquer hipótese, seria possível realizar a Copa com bem menos do que isso. Não vejo risco nenhum nesse sentido.

CartaCapital: E o resto da infraestrutura? Aeroportos, por exemplo.
DR: No dia dos jogos vai ter feriado e não haverá concorrência com a estrutura logística. Os aeroportos são, ao contrário, essenciais, ainda mais em um país continental. Dos aeroportos com grandes problemas, temos São Paulo e Brasília, os demais têm muito menos problemas. Por isso decidimos fazer concessões privadas em ambos. Estamos perto de bater o martelo na formatação do leilão. O edital sai em dezembro, a contratação em fevereiro ou março. Concederemos 51%, os outros 49% ficam com a Infraero. Antes, explico o que não vamos conceder: o sistema de navegação e o de aproximação, portanto, nenhuma das torres. Nem o sistema público responsável pela gestão dos voos. Vai continuar a ser responsabilidade do Decea (Departamento de Controle do Espaço Aéreo), na sua grande maioria, e da Infraero, em menor proporção. Sobra para o setor privado a exploração comercial, a administração do aeroporto e a ampliação.

CartaCapital: Aumentar a capacidade.
DR: Em São Paulo, vamos reforçar Guarulhos, mas o futuro está em Viracopos, pois Cumbica caminha a passos acelerados para o esgotamento de sua capacidade. Ele não tem retroárea suficiente para expandir, a cidade cresceu naquela direção e o custo para desapropriar é elevado, tanto no que se refere a pequenos imóveis unifamiliares quanto a empresas. Já estudamos várias alternativas, inclusive mudar a configuração da pista, mas é inviável. O que podemos expandir? Os terminais de passageiros. Há ainda o que fazer no pátio e na pista. Fizemos agora uma contratação por emergência de um módulo e de um terminal. Serão entregues até dezembro, pois nossa preocupação não é só a Copa. A taxa de uso de avião cresce 20% ao ano no Brasil, um escândalo.

CartaCapital: São os puxadinhos…
DR: Puxadinhos, meu filho, foi o que segurou a Copa da África do Sul. Não faremos isso. Vamos segurar até a Copa, mas, quando ela chegar, teremos estrutura. Qual é o problema? Guarulhos sustenta o sistema. A licitação terá de levar em conta esse fato. Vamos ter de criar um fundo que pegue parte dessa renda e a distribua. Ela não pode ficar apenas para quem explora o aeroporto. Não é uma licitação trivial, portanto. Em um segundo momento, vamos nos concentrar no Galeão (Rio de Janeiro) e em Confins (Belo Horizonte). O problema dos aeroportos não é da Copa, é algo para depois de amanhã. Asseguro que em 2014 estará tudo prontinho.

CartaCapital: E os legados?
DR: Há 50 obras de legado. A Copa não depende delas para funcionar, é algo a deixar para as cidades. Os prefeitos e governadores têm até dezembro deste ano para ao menos iniciar a fase de licitação. Caso contrário, a obra sai do PAC da Copa e vai para o PAC normal. Por quê? Porque, se não licitar até o fim do ano, elas não ficarão prontas em dezembro de 2013. O governo federal pode fazer várias coisas, mas não pode obrigar ninguém a manter um ritmo se não tiver essas condições prévias.

CartaCapital: Como a senhora imagina o Brasil em 2014?
DR: Farei tudo que estiver ao meu alcance para que o Brasil, em 2014, tire 16 milhões de cidadãos da miséria. Que a nossa classe média tenha na educação um caminho para manter sua condição e que aqueles que estão um pouquinho acima na pirâmide social desses 16 milhões de miseráveis passem para a classe média. Quero consolidar um Brasil de classe média. Além disso, quero ter transformado, ao menos em parte, a área de saúde. Não podemos ter hospitais em quantidade absurda, mas podemos ter uma política de regionalização, como tivemos no caso das universidades. E aí tem outra solução. Não sei se vocês sabem, mas precisamos ter, no governo, obsessões. E a minha próxima obsessão é o tratamento em casa, o home care, levar o atendimento de um hospital às casas das famílias. Por quê? Por que queremos inventar uma coisa sofisticada? Não, porque é mais barato, é melhor para as pessoas e por poder ser feito em escala maior com um custo fixo muito pequeno e com um custo variável interessante. Isso vai descongestionar o tratamento final nos hospitais e diminuir a quantidade de tempo que as pessoas permanecem ocupando um leito.

CartaCapital: A senhora poderia dar mais detalhes?
DR: Ainda não. Estamos fazendo as contas, na ponta do lápis, pois não faremos nada sem convicção. Hoje, a convicção sobre a viabilidade do projeto é de 90%. Vamos dimensionar o tamanho. Por isso falo: certas coisas só se fazem com obsessão. Começamos pelas UBS (Unidades Básicas de Saúde). Estamos reequipando, remodelando e modernizando cerca de 40 mil unidades. Temos o mapa da pobreza feito pelo Censo, por grupo e região, e as 3 mil UBS que temos para construir vão para esses locais.
O mesmo acontece com a Rede Cegonha. Não vamos conseguir fazer em todos os municípios, mas estamos começando por aqueles com o mais baixo nível de tratamento, de acesso a equipamentos de saúde.

CartaCapital: Falemos de uma obra bastante criticada. Por que o seu governo insiste no trem-bala?
DR: As mesmas pessoas que hoje criticam o trem-bala diziam nos anos 1980 que o Brasil não deveria fazer metros, era coisa de país rico. Deu no que deu. O trem-bala não se justifica naquelas extensões chinesas, de 1,5 mil quilômetros. Na extensão entre o Rio de Janeiro e São Paulo é absolutamente justificável. Não se trata apenas de oferecer mais uma alternativa de transporte, mas de produzir uma reconfiguração urbana. E um ponto que ninguém discute. No trajeto entre o Rio e São Paulo vai ocorrer uma desconcentração urbana. O cara entra no trem-bala, desce no centro da cidade e vai trabalhar. Se não encontrarmos uma solução para as duas metrópoles, teremos uma banana gigantesca nas mãos. Ficarão inviáveis. Uma vez em Tóquio percebi que as ruas eram estreitas, mas não havia congestionamentos. Quis saber o motivo e me explicaram que o sistema de trens criado depois da Segunda Guerra Mundial tinha mudado a direção urbana das cidades. Nas paradas entre Tóquio e Kyoto criaram-se bairros, áreas de moradia. Pense no percurso entre São Paulo e Rio, entre a serra e o mar. É um dos lugares mais bonitos do País. Não existirá motivo para que as pessoas não queiram morar nesse caminho. Com o trem-bala, alguém que viva a 60,70, até 100 quilômetros do Rio ou de São Paulo chegará rapidamente aos centros dessas cidades.

CartaCapital: A Comissão da Verdade vai sair do papel?
DR: Vai sim, vamos criá-la. Queremos que seja unânime nas bancadas do Congresso. Não há motivo nenhum para o PSDB e o DEM não a aprovarem. Não é algo que pode serviste partidariamente, é uma dívida que temos.

*Entrevista à revista Carta Capital

Fonte: Vermelho

Wallerstein: Se vienen años de incertidumbre y caos mundial



Por Sally Burch (15/08/11)

El destacado académico de las ciencias sociales, Immanuel Wallerstein, es uno de los más connotados exponentes del pensamiento crítico contemporáneo y durante su reciente visita a Ecuador, ALAI conversó con él sobre la actual crisis de deuda que golpea duramente a Estados Unidos y sus consecuencias para los países emergentes y América Latina.

El investigador principal de la Universidad de Yale considera que el dólar ha entrado en un proceso grave e irreversible de pérdida de valor como moneda de reserva mundial, subrayando que era “el último poder serio que mantenía Estados Unidos”.

Wallerstein piensa que las diferentes medidas de emergencia que se están implementando en su país simplemente están retrasando la banca rota mundial. “Los daños son hechos concretos, la situación de los Estados Unidos es grave y no es recuperable”, recalca.

Estima que el desenlace ocurrirá dentro dos o tres años, con resultados caóticos para el sistema mundial porque “no habrá una moneda de reserva internacional” y tampoco existen condiciones para que otra moneda pueda ocupar ese rol. Entonces con el fin del dólar como reserva mundial “van a existir cinco, seis o siete monedas importantes, una situación caótica porque habrá fluctuaciones enormes continuas”.

“Ni los gobiernos ni las firmas transnacionales, ni los mega-bancos, ni los individuos sabrán qué hacer. Una incertidumbre enorme paralizará el mundo, especialmente a los inversionistas”, advierte el académico estadounidense.

Mientras esto ocurre en un nivel macro de la economía norteamericana, paralelamente también en un plano más local se vienen produciendo serios problemas económicos. “Comunidades urbanas pequeñas están entrando a la bancarrota y por ejemplo no pueden pagar las jubilaciones”, indica el científico social.

El investigador considera que en su país la clase media es la más afectada porque de un día a otro las familias pierden posición y los trabajadores que perdieron su empleo no pueden hallar otro puesto, especialmente las personas entre 40 y 60 años, llegando incluso a perder sus casas. Es una situación que actualmente no tiene solución y no se observa posibilidad de encontrar una válvula de escape.

Además, Wallerstein señala que “la situación en Estados Unidos va a empeorar porque se va a eliminar la posibilidad que el gobierno sostenga gastos necesarios en este momento, creándose una situación peor que la actual. La fantasía del Tea Party está llevando a Estados Unidos y por consecuencia a todo el mundo en dirección de un crash”.

Teniendo en cuenta estas consideraciones el pronóstico del teórico norteamericano, para los próximos años, es bastante pesimista. “Yo veo guerras civiles en múltiples países del norte, sobre todo en Estados Unidos donde la situación es mucho peor que en Europa occidental, aunque allá también hay posibilidades de guerra porque hay un límite hasta el cual la gente ordinaria acepta la degradación de sus posibilidades”.

China y países emergentes

Ante la crisis de Estados Unidos y Europa los países emergentes por el momento parecen vivir bien, sin embargo, desde el punto de vista de Wallerstein, esconden una falsa realidad porque todos estamos en una misma canasta.

Teniendo en cuenta que China es el principal tenedor de bonos norteamericanos, ese país afronta una disyuntiva muy delicada. Wallerstein considera que si por un lado “deja de comprar bonos de Estados Unidos va a perder la oportunidad de colocar productos chinos en ese mercado, un problema muy serio para la China. Al mismo tiempo, cuando el dólar pierda su posición relativa a las otras monedas sus bonos no van a valer mucho”.

Entonces, China se está arriesgando a perder enormemente tanto si se retira o si continúa en el mercado de bonos norteamericanos. Frente a esta situación considera que “lo más probable es que la China se vaya retirando poco a poco”. Justamente el problema está en determinar cuando es el momento perfecto para detener las inversiones, lo cual es imposible de señalar porque si lo supiéramos seríamos todos ricos, agrega el investigador.

Además de este serio problema que afronta China, explica que el país asiático atraviesa por una situación muy frágil desde el punto de vista de su economía interna, “porque los bancos chinos están en la misma situación que los bancos norteamericanos de hace dos o tres años”. Asimismo, la inflación limita posibilidades a China y a otros países emergentes como, por ejemplo, a Brasil.

En este contexto considera que los países emergentes, y en el caso de Suramérica la Unasur, deberán hallar los mecanismos de un “proteccionismo a corto plazo a fin de minimizar los daños que serán para todo el mundo. No habrá países que escaparán de los daños pero serán más grandes para algunos que para otros”.

Preguntado sobre la construcción de una nueva arquitectura financiera regional, con iniciativas como el Banco del Sur o de una moneda regional como el Sucre, el académico valoró positivamente esas posibilidades para los pueblos de América del Sur. “La creación eventual de una moneda verdadera común será un elemento de fuerza económica en esta situación”. En ese sentido citó como ejemplo que a pesar de las dificultades en Europa con el euro, la decisión de salvaguardar la moneda común “va a permitirles una posición política importante”.

Finalmente, como un mensaje para América Latina invitó a continuar con la reflexión sobre la necesidad de garantizar alimentos suficientes para su pueblo, agua para su pueblo, energía para su pueblo, como cuestiones mínimas y esenciales que deben hacer todos los gobiernos del Sur.

Fuente: Alainet

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