Por Edson Osvaldo Melo
EM março de 2020, aproveitando uma conexão no trajeto de Goiânia para Curitiba, fiz questão de ir conhecer o Padre Júlio Lancellotti lá na Paróquia São Miguel Arcanjo, no bairro da Mooca, em São Paulo.
Tão pequenina a igreja, que em minha cidade natal não passaria de uma capela.
Padre Júlio contou que ela era uma espécie de "patinho feio" da Cúria paulistana, em razão da dimensão e pouco movimento.
Evitada, se possível, por outros sacerdotes por falta de, digamos, perspectiva.
Ele assumiu a parada.
E com a atuação em prol dos mais necessitados, o espaço que já era pequeno ficou ainda menor, obrigando a busca de um local apropriado para o atendimento.
Assim surgiu, a poucas quadras da igreja, o refeitório popular que atende diariamente com dignidade o povo de rua.
Padre Júlio fez questão de ir caminhando ao meu lado, até lá.
Pude constatar in loco, observando o olhar das pessoas atendidas, a importância da missão de Júlio Lancellotti.
Especulação Imobiliária
É visível nas proximidades da Paróquia São Miguel Arcanjo do Padre Júlio Lancellotti a construção de novos empreendimentos imobiliários (vide fotos).
A Mooca é a bola da vez.
A proximidade do Centro, o Metrô, avenidas largas: tudo favorece para a mudança repentina de um bairro outrora operário, com casas e sobrados entre galpões industriais e comerciais, para uma selva de espigões com aqueles vidros verdes horríveis.
O refeitório do Padre Júlio atrai e atende, socorre, o povo de rua. Se o povo é de rua, não há "retorno para casa" após as refeições. Uma boa parte fica por ali, monta uma barraca debaixo de uma árvore, na calçada, no gramado...
O visual desta população desabrigada agride os planos dos empreendedores que querem, e estão transformando, a Mooca.
Padre Júlio e seu povo de rua precisam desaparecer para o bem dos negócios.
(Até mesmo) alguns policiais militares já mandaram recados por meio de um ou outro desabrigado: "avise o teu padreco que a hora dele vai chegar"!
Antes mesmo de algo pior acontecer, já foi decretada a invisibilidade desta gente: eles têm que sumir dali.
*Padre Júlio Lancellotti, 75 anos, é responsável pela Paróquia de São Miguel Arcanjo, no bairro da Mooca. Desde 1993, coordena a Pastoral do Povo de Rua. É padre desde 1985 e foi um dos fundadores da Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Paulo, em 1977.
*Texto e fotos: Edson Osvaldo Melo
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