Artigo do senador Eduardo Suplicy sobre o caso Battisti.
Apesar de publicado em 2009, ainda é muito atual e esclarecedor.
No último dia 9 de setembro (de 2009), acompanhei, no Supremo Tribunal Federal, grande parte da sessão de julgamento do caso da extradição ou de refúgio de Cesare Battisti. Muitas pessoas me perguntam sobre meu empenho na defesa de um homem acusado de ter cometido quatro assassinatos na Itália.
Gostaria de esclarecer que, em 2007, fui procurado em meu gabinete pela arqueóloga, historiadora e escritora Fred Vargas, que tem diversos livros editados dentre os mais vendidos na França e demais países europeus.Segundo o jornal francês Le Figaro, do último dia 15, Fred Vargas está entre os três escritores franceses que mais venderam livros no ano passado.
Quando de sua visita, ela me explicou o seu empenho em desvendar a inteira verdade sobre a história de Cesare Battisti, acusado e condenado à prisão perpétua em seu país por quatro assassinatos, os quais não havia cometido.
Fred Vargas, como arqueóloga, desvendou como a peste se espalhou na Idade Média através de certos tipos de pulgas. Este trabalho lhe rendeu vários prêmios, permitiu estudar e fazer algumas recomendações ao atual governo francês sobre como evitar que a gripe A H1N1 se espalhe mais ainda. Com a mesma energia ela resolveu investigar a inteira verdade do caso Cesare Battisti.
O seu empenho em buscar a verdade e promover a justiça me sensibilizou a tal ponto que resolvi conhecer Cesare Battisti e a sua história. Visitei-o várias vezes, li seu livro Minha fuga sem fim, estudei o processo e cheguei à mesma conclusão de Fred Vargas. Nestes últimos dias, ela estudou com atenção as 131 páginas do voto proferido pelo eminente ministro Cezar Peluso, do Supremo Tribunal Federal.
Com todo o respeito pelo trabalho tão detalhado e com base nas informações obtidas em seus estudos, Fred Vargas detectou algumas falhas que levaram o ministro-relator a uma conclusão que não encontra suporte nos fatos.
Para que não apenas o ministro Cezar Peluso mas, também, os demais ministros possam refletir a respeito, encaminhei a todos um texto de Fred Vargas intitulado 13 perguntas ao ministro-relator Cezar Peluso, Equívocos e imprecisões que podem levar um homem à prisão perpétua.
No documento (que pode ser lido em Suplicy@senador.gov.br="">) ela ressalta vários fatos importantes existentes nos autos do processo italiano e que não foram observados pelo ministro-relator.
Sendo assim, creio ser relevante que os ministros, por quem tenho grande deferência, possam esclarecer essas questões antes que o veredicto sobre o caso Cesare Battisti seja proferido.
Sinto-me no dever, como cidadão brasileiro, descendente de italiano, senador da República, eleito por três vezes, de contribuir com a Justiça de meu país para que tome uma decisão correta. É como cidadão brasileiro, bisneto e neto de italianos, que conclamo a pátria de meu avô e de meu bisavô a também procurar a verdade. Como fizeram os grandes cientistas italianos da história da humanidade Galileu Galilei, Giordano Bruno, Leonardo da Vinci e tantos outros que sempre tiveram como lema buscar a verdade, valor inerente ao ser humano, para alcançar a justiça.
* Eduardo Suplicy é senador (PT-SP).
FIM
Estraído do site do Senador Eduardo Matarazzo Suplicy, no link "Publicações":
http://www.senado.gov.br/senadores/Senador/esuplicy/#
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